Por Mauro Demarchi
Vinte anos após sua revelação, o escândalo do mensalão ressurge como tema necessário — não apenas pelo marco temporal, mas pela reincidência estrutural que ele denunciou e que o Brasil teima em não resolver. Um recente artigo do Prof. Dr. Givanildo Silva, publicado no ClicRDC1 e redigido com apoio da inteligência artificial, devolve esse tema ao debate público com clareza e coragem. Sua análise vai além da reconstituição histórica; trata-se de uma denúncia renovada contra os vícios persistentes da política brasileira.
O mensalão, denunciado em 6 de junho de 2005, expôs um sistema político que não apenas tolerava, mas dependia da corrupção para funcionar. Como bem resumiu o professor, foi “um espelho incômodo para a política brasileira”. A compra sistemática de apoio parlamentar revelou a face oculta de uma engrenagem movida por dinheiro, fidelidade partidária paga a peso de ouro e um Executivo disposto a transformar o Congresso em extensão de seu gabinete.
O artigo lembra que quarenta pessoas foram formalmente acusadas. Entre elas, nomes de altíssimo escalão, como José Dirceu e Delúbio Soares. A chamada Ação Penal 470 foi um marco jurídico e político — e também um teste de memória nacional.
Mas o que aprendemos?
Givanildo Silva aponta dois dados assustadores: a reincidência e a amnésia seletiva. Muitos dos condenados voltaram à cena política, direta ou indiretamente, e a sociedade, anestesiada pela polarização, ou a normalizar escândalos. A justiça puniu, mas a política perdoou. Ou esqueceu.
Tal esquecimento, no entanto, é mais que desatenção — é cumplicidade. A permanência de um modelo político que recompensa a fidelidade comprada e pune a ética não apenas sobreviveu ao mensalão; sofisticou-se, como revelado no petrolão, na Lava Jato e em tantos outros casos cujos desdobramentos se dissolveram entre blindagens parlamentares e discursos de conveniência.
A política como mercado, o Congresso como balcão
Se o mensalão revelou a lógica da fidelidade partidária mediante propina, o presente revela a banalização dessa prática. O Congresso, em muitos momentos, transforma-se num mercado de votos, onde a moeda é emenda, cargo ou blindagem. A corrupção se apresenta agora não como exceção, mas como engrenagem aceita por todos, contanto que seja útil a seus objetivos.
Essa lógica destrói a confiança social nas instituições. O artigo de Givanildo acerta ao afirmar: “Enquanto os escândalos se empilham, o cidadão comum paga a conta.” E paga mesmo: seja pela ineficiência dos serviços públicos, seja pelo descrédito da democracia representativa, seja pelo afastamento dos melhores quadros da vida pública.
A crise da memória
Mais do que escândalo, o mensalão foi aviso. Mas, como bem adverte o professor, ignorar esse aviso é insistir no erro. Não se trata de nostalgia, mas de memória crítica. A impunidade política não apenas repete, ela corrói o próprio sentido de justiça. Hoje, diante do desmonte da Lava Jato, da recomposição de alianças duvidosas e da normalização do fisiologismo, temos a impressão de que a lição não foi apenas esquecida — foi deliberadamente abandonada.
O papel do cidadão e da imprensa
Diante disso, a responsabilidade recai não apenas sobre os agentes políticos, mas também sobre a sociedade civil e a imprensa local e nacional. A memória histórica precisa ser cultivada — não como revanche, mas como prevenção. Um povo que esquece, ensina aos poderosos que o crime compensa.
Como conclui o artigo original:
“O mensalão não foi apenas um crime — foi um aviso. Ignorá-lo é repetir o erro, com novas máscaras e os mesmos métodos.”
Vinte anos depois, o mensalão ainda fala. Resta saber se estamos prontos para ouvir.