Por dentro do 2º Seminário Nacional de Comunicação do Partido Liberal em Fortaleza
O que fazia um jornalista identificado com pautas progressistas no centro de um evento bolsonarista lotado de influenciadores de direita, executivos de big techs e até o próprio Jair Bolsonaro? Disfarçado de “convicto bolsonarista”, um repórter do Intercept Brasil se infiltrou no 2º Seminário Nacional de Comunicação do PL, realizado no dia 30 de maio em Fortaleza, para entender de perto a nova estratégia digital da extrema direita para 2026.
E a principal aposta do Partido Liberal ficou clara: inteligência artificial.
Um evento digital, com benção das big techs
O congresso foi moldado como um verdadeiro “aulão de guerra” digital. Oficinas práticas com executivos da Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp) e do Google ensinaram participantes a usar IA para produzir vídeos, textos e imagens altamente impactantes para redes sociais. O objetivo? Dominar a atenção do eleitor nas plataformas.
Felipe Ventura, da Meta, abriu os trabalhos ensinando como usar o Meta AI para gerar imagens, corrigir textos e adaptar linguagem para diferentes públicos. Ele também apresentou o WhatsApp Business como ferramenta de propaganda política.
Na sequência, influenciadores e especialistas em edição mostraram como usar IA para criar vídeos envolventes, com legendas automáticas, efeitos visuais e até manipulação de fundo — tudo com poucos cliques.
Encerrando as oficinas, Ricardo Vilella, do Google, apresentou as ferramentas Gemini e Notebook LM, que podem resumir documentos e vídeos, gerar roteiros e até peças publicitárias. Mesmo com tempo reduzido devido à chegada de Bolsonaro, o executivo deixou claro: a IA é o novo braço da comunicação política.
O novo front: a guerra da influência
O evento não era apenas técnico: era também um espetáculo identitário do bolsonarismo. Camisas da seleção brasileira, gritos de “volta, capitão” e músicas como “Meu filho vai ser bolsonarista” criavam um ambiente de devoção ao ex-presidente. Havia até pulseiras exclusivas para influencers, com aviso claro: “Quem não for influencer, sai da frente!”.
Segundo Bolsonaro, o trabalho dos influenciadores é “a chama que garante que a vitória virá”. A militância digital foi tratada com prioridade: lugares na frente, o especial e atenção da organização. Não era só evento político, era treinamento para uma cruzada digital.
O papel das big techs: neutralidade ou cooptação?
Apesar do discurso bolsonarista frequente contra censura e “controle das redes”, o evento mostrou uma forte aliança com as plataformas. Representantes da Meta e Google compareceram, ofereceram oficinas e até endossaram o uso de suas ferramentas para campanhas políticas.
Como destacou o repórter infiltrado:
“A mensagem era clara: as big techs estavam ali em peso, abençoando o evento e compartilhando o caminho das pedras”.
Por que o PL organizou esse evento?
A resposta é simples: preparação antecipada para 2026. Sabendo que a direita já domina o uso das redes, o partido quer ampliar esse poder com as novas ferramentas de IA. O objetivo é capacitar uma nova geração de soldados digitais com conhecimento técnico, alinhamento ideológico e foco total nas eleições.
Com workshops práticos e alinhamento estratégico, o evento marca a profissionalização definitiva da máquina de comunicação da direita brasileira — agora turbinada com inteligência artificial, estética influenciadora e apoio empresarial.
Conclusão
A presença de um jornalista de esquerda no evento expôs algo preocupante: a esquerda ainda está distante dessa nova frente tecnológica da política. Enquanto isso, o bolsonarismo já ensaia seus próximos os — bem ensaiados, bem produzidos, e agora, com a ajuda das próprias plataformas que dizem combatê-lo.
Se 2018 foi o ano do WhatsApp, 2026 pode ser o ano da IA. E o campo de batalha está armado: Os palanques estão montados, os discursos foram decorados, os bastidores fervilham. E o campo de batalha está armado — e é você, eleitor!.