Você sabia que em 1858 a região onde hoje está localizada a comunidade de Catuíra, em Alfredo Wagner, já fervilhava de vida, cultivo e esperança? Na época, era a parte central da Colônia Militar de Santa Teresa, e o retrato mais fiel daquele tempo foi registrado pelo Presidente da Província, em discurso oficial na Assembleia Legislativa Provincial.
Naqueles tempos, os Presidentes de Províncias compareciam diante dos Deputados e apresentava um relatório de como havia governado a Província (como eram chamados os Estados, durante o Império). Todas as Falas do Presidente estão publicadas e disponíveis para consulta na Hemeroteca Nacional.
Apesar das dificuldades, como a seca enfrentada naquele ano, a colônia surpreendia pela resiliência. “Houve no anno findo a bundancia de feijão, milho, batatas e amendoim, espantosa producção de aboboras”, relatava o Presidente. Havia ainda colheitas de melancias, fumo, um pouco de melado e até farinha de mandioca, “em diminuta quantidade”.
Mas o que mais impressionava era a organização e o espírito de progresso do lugar. Ao todo, a colônia contava com 50 casas: “31 na praça, e 19 nas datas”. E nas trilhas mais afastadas, como na picada do Morto Chato, já se erguiam ranchos provisórios que abrigavam novas famílias vindas para colonizar a terra.
Naquele ano, a colônia ganhou 94 novos moradores, e mesmo com algumas partidas e perdas, o balanço foi positivo: “Dá-se pois um augmento de 49 almas”, dizia o relatório com orgulho.
Além da produção agrícola, a colônia possuía um pequeno mas significativo plantel: “6 vaceas, 43 cavallos, 8 bestas, mais de 50 suínos, e grande quantidade de aves domésticas”. Tudo isso sustentava um cotidiano de trabalho árduo, mas promissor.
O Presidente também detalhou a população local: ao final de 1858, viviam na sede da colônia, (onde hoje se encontra parte da região da Catuíra), 130 pessoas. No destacamento do Morro Chato, mais 40 pessoas. Era uma comunidade crescente, onde o som das enxadas e o canto dos galos anunciavam dias de construção e esperança.
Essa memória, hoje resgatada, nos lembra que antes das estradas, da luz elétrica e da internet, já havia história viva pulsando nos vales e morros de Alfredo Wagner. E que a nossa Catuíra, antes de ser nome de mapa, foi chão de colônia, picada aberta com coragem e sonho.