Nesta semana, Alfredo Wagner foi palco de uma audiência pública promovida pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC), com um tema de extrema importância: a proteção, defesa e bem-estar dos animais. Representantes de diversos municípios da região serrana estiveram presentes — de protetores e ativistas a lideranças políticas locais — todos reunidos com um objetivo comum: discutir políticas públicas eficazes em prol dos animais.
No entanto, o evento, que deveria fortalecer ações sérias e dar voz a uma pauta sensível e urgente, terminou sendo ofuscado por um ato inusitado protagonizado pelo presidente da comissão, deputado Marcius Machado (PL). Ao convidar os presentes a “uivarem” em homenagem aos cachorros, o parlamentar transformou o encerramento da audiência em uma cena caricata que rapidamente viralizou em sites, redes sociais e veículos de comunicação em todo o estado.
O constrangimento foi visível. A maioria dos participantes, surpresos com a proposta, optou pelo silêncio. Mas o deputado insistia: “Vamos testar a uivação”, “Fechem os olhos e imaginem que são cachorros sob a lua”, dizia, misturando frases desconexas com seus próprios uivos. O que deveria ser um encontro técnico, propositivo e respeitoso com a causa animal acabou reduzido a uma performance cômica e constrangedora.
É lamentável que a pauta da audiência — os desafios enfrentados pelos municípios para cuidar dos animais abandonados, as carências estruturais, o apoio às ONGs locais, a fiscalização de maus-tratos e o avanço da legislação estadual — tenha sido completamente soterrada por uma encenação que, em vez de emocionar ou unir, banalizou o momento.
A justificativa do deputado, de que trata-se de um exercício de oratória, soa ainda mais deslocada. Audiências públicas não são salas de aula de curso motivacional. São espaços institucionais onde se escutam demandas reais, onde se busca construir soluções para problemas urgentes. Transformá-las em espetáculos diminui a seriedade da política e desrespeita tanto os participantes quanto a causa.
Pior ainda é o efeito prático: ninguém mais comenta o conteúdo da audiência. O que deveria ter sido uma oportunidade para avançar em propostas concretas foi substituído pelo meme, pelo deboche e pela indignação. A imagem que ficou não é a de protetores emocionados ou de propostas relevantes debatidas — mas de um auditório perplexo diante de um convite para “uivar como cães”.
A causa animal, que já luta por atenção e recursos, não merece ser tratada como espetáculo. É preciso recuperar o foco e o respeito por temas que dizem respeito à ética, à compaixão e à vida. Se queremos que a sociedade leve a sério a defesa dos animais, é fundamental que os próprios representantes eleitos façam o mesmo.