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Medidas protecionistas de Trump trazem oportunidades para startups de bioinsumos e desafios na agenda ESG, diz estudo da WBGI x2f6k

Levantamento da venture builder aponta os caminhos para startups do agro em meio ao cenário de incertezas econômicas e redesenho geopolítico

As recentes movimentações econômicas promovidas pelo governo norte-americano sob a liderança de Donald Trump estão redesenhando as regras do jogo global — e o setor de agtechs brasileiras, já pressionado por desafios internos, vê-se agora em meio a riscos, retração de capital e novas oportunidades estratégicas. É o que mostra um estudo da venture builder WBGI, que analisa o impacto das políticas econômicas do chamado “Trumponomics” no ecossistema nacional de inovação no agro.

O retorno de Trump ao poder, acompanhado de medidas protecionistas agressivas e reconfiguração de acordos comerciais, tem elevado os níveis de incerteza internacional a patamares inéditos. Como consequência imediata o estudo identifica uma fuga de investidores para ativos considerados mais seguros, como ouro, iene e franco suíço — o que tem restringido o fluxo de capital para mercados emergentes como o Brasil.

Esse movimento de aversão ao risco afeta diretamente as agtechs, que já vinham enfrentando um ambiente de investimento mais seletivo desde 2022. A alta da taxa Selic e o encarecimento do crédito dificultam a expansão e pressionam o valuation das startups do setor.

Mesmo com uma tarifa relativamente branda imposta pelo governo americano — 10% para o Brasil — o impacto sobre as exportações agropecuárias pode ser profundo. Levantamentos de mercado apontam retrações potenciais de até 85% nas exportações de carne para os EUA, além de perdas significativas em cadeias como cana-de-açúcar e citros.

Esses gargalos comerciais, por sua vez, têm efeito cascata nas agtechs que operam ou pretendem operar nesses mercados. Startups em processo de internacionalização, que tinham os Estados Unidos como destino prioritário, devem rever estratégias e buscar novos mercados com menor atrito comercial.

Apesar dos desafios, o cenário também abre janelas de oportunidade. Um exemplo é o fortalecimento das agtechs voltadas a bioinsumos, que podem ganhar tração graças à alta do dólar e à dependência brasileira de insumos químicos importados. Startups que apresentarem soluções eficientes, com produção local e bom desempenho operacional, podem conquistar espaço em um mercado mais receptivo a alternativas viáveis e sustentáveis.

Além disso, o realinhamento geopolítico impulsionado pela deterioração das relações entre EUA e China pode favorecer o Brasil como parceiro estratégico da potência asiática, com impacto direto no escoamento de tecnologias agrícolas e insumos e também de outros mercados como Mercosul e União Europeia.

Outro efeito colateral das políticas trumpistas é o arrefecimento da agenda ESG. A menor pressão institucional por sustentabilidade nos EUA e na Europa deve impactar startups com foco em impacto ambiental e social, exigindo que essas empresas demonstrem ainda mais claramente a viabilidade e o valor agregado de suas soluções. Esse ambiente pode representar um obstáculo relevante para agtechs que cresceram com foco em soluções ESG, especialmente aquelas que atuam em mercados de carbono, biodiversidade e práticas regenerativas. “A redução do incentivo institucional e do investimento em iniciativas sustentáveis em escala global pode frear a expansão ou a internacionalização dessas startups, minando parte das teses de impacto que sustentam seus modelos de negócio. Mais do que nunca, será fundamental que agtechs voltadas à agenda ESG apresentem soluções genuinamente inovadoras, que resolvam dores reais do mercado e sejam capazes de atender tanto às necessidades dos produtores quanto às exigências de compradores e reguladores nos mercados de carbono e sustentabilidade”, aponta o estudo.

Ainda de acordo com a WBGI, no novo mundo pós-Trumponomics, inovação sem entrega prática de valor não será suficiente e as agtechs brasileiras precisarão operar com foco em eficiência, agilidade e adaptação. Startups resilientes, com estruturas enxutas e soluções alinhadas às dores reais do campo, terão mais chance de emergir fortalecidas.

e o estudo completo aqui.


Flávia Romanelli
agridocecomunicacao.com.br