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A grande libertação: a Páscoa dos Hebreus e a Páscoa de Cristo 5m6c28

Neste domingo de Páscoa, somos convidados a contemplar a plenitude do mistério da libertação. Com frequência, associamos a Páscoa a símbolos de paz, esperança e renascimento — e com razão. No entanto, por vezes esquecemos que a origem dessa celebração remonta a dois eventos históricos e espirituais de magnitude extraordinária: a libertação dos hebreus da escravidão no Egito e a ressurreição de Jesus Cristo da morte. Ambos são marcos fundadores que moldaram a fé de milhões de pessoas ao longo dos séculos, e cuja força transformadora permanece viva até hoje.

A primeira Páscoa: a travessia da escravidão para a liberdade

A Páscoa judaica, ou Pessach, celebra a saída do povo hebreu do Egito, onde vivia oprimido sob o jugo de Faraó. Deus, por meio de Moisés, interveio com mão poderosa, realizando sinais e prodígios que culminaram na última e mais dramática praga: a morte dos primogênitos egípcios. Naquela noite, o sangue do cordeiro, aspergido sobre as portas dos hebreus, foi sinal de salvação. O anjo da morte ou por cima (over) das casas marcadas, poupando os que confiavam em Deus.

Foi uma noite de juízo e libertação. Um povo inteiro cruzou as fronteiras da escravidão em direção ao deserto — ao desconhecido — mas movido pela promessa de uma terra de liberdade. A travessia do Mar Vermelho, com águas se abrindo ao comando divino, não foi apenas um milagre visível, mas o símbolo de uma transformação profunda: de escravos em um povo livre, de servos em filhos da promessa.

A nova Páscoa: da morte para a Vida

Mais de mil anos depois, em Jerusalém, outro Cordeiro seria imolado. Jesus de Nazaré, traído, julgado injustamente e crucificado, entrega-se livremente à morte. Mas esta entrega não é derrota — é o prelúdio da vitória. Ao terceiro dia, Ele ressuscita. A pedra do sepulcro é removida e o vazio do túmulo torna-se anúncio de plenitude.

Aqui, a libertação é ainda mais radical. Não se trata apenas de uma liberdade política ou social, mas da libertação do maior inimigo da humanidade: a morte. Cristo vence o pecado, destrói o poder da morte e nos abre as portas da vida eterna. É a nova e definitiva Páscoa — não apenas o ar do anjo da morte, mas a vitória sobre a morte em si.

Dois Êxodos, um só Deus libertador

O fio invisível que une esses dois eventos é a ação do Deus que liberta. Na primeira Páscoa, liberta um povo oprimido por faraós. Na segunda, liberta toda a humanidade da escravidão do pecado. Ambos os momentos são acompanhados de sinais portentosos, que quebram as leis naturais: mares se abrem, mortos ressuscitam. Em ambos, Deus age de forma direta, visível, para manifestar sua glória e sua misericórdia.

No Antigo Testamento, Deus forma um povo. No Novo, Ele dá a este povo um Salvador. Se no Egito o sangue do cordeiro salvava da morte, na cruz é o Sangue do Cordeiro de Deus que salva para a vida eterna.

Os frutos da libertação

A primeira Páscoa gera um povo livre, uma aliança no Sinai, uma Lei dada por Deus. A segunda Páscoa gera uma Igreja, um povo reunido em torno da ressurreição, guiado pelo Espírito e alimentado pela Eucaristia — que é, por excelência, o memorial da nova Páscoa.

Ambas as libertações exigem fé. Ambas convidam à confiança num Deus que age mesmo quando tudo parece perdido. E ambas apontam para um caminho de esperança, mesmo no meio do deserto ou do sepulcro.

Conclusão: um chamado à liberdade interior

Celebrar a Páscoa é, portanto, mais do que recordar um evento do ado. É permitir que esses dois momentos extraordinários de libertação continuem a ecoar em nossa própria história. Hoje, somos chamados a deixar o Egito das nossas escravidões interiores e a sair do túmulo das nossas desesperanças. Cristo ressuscitou! A pedra foi removida. A estrada está aberta. E o convite à liberdade permanece de pé.